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Caldeirão da Bolsa

Bitcoin - A Moeda do Futuro?

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Re: Bitcoin

por djovarius » 11/5/2021 12:23

A exigência de Bitcoins por parte dos hackers (do leste?) que fizeram o recente ataque de ransomware nos EUA, fez soar os sinais de alarme.
É uma pedra no sapato que pode levar ao fim das criptos.

Qualquer notícia dessas leva a um "sell-off" nos mercados, claro, por óbvias razões, com ênfase nas cripto.
Imagine-se o que pode acontecer se sair uma notícia ainda mais "poderosa".
Estes ativos podem levar "porradas" de 50%, 70% ou algo parecido.
Dá que pensar.

Abraço

dj
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Re: Bitcoin

por djovarius » 10/5/2021 19:09

Bom, para reserva de valor ainda poderia ser. Lá está, uma alternativa às reservas de valor existentes.

Mas, com volatilidades desta natureza, é complicado poder ser uma reserva de valor. Pode ser que mude, mas, de momento, parece mais um casino global.
O facto de jovens estarem "all-in" nisto não quer dizer nada. Estão os que têm dinheiro de sobra.
Mas também conheço taxistas, peixeiros e taberneiros (nada jovens) que se "dedicaram" a isto, sobretudo em tempos estranhos como os que estamos a viver.
Na "psique" de 99% desse pessoal isto é visto como algo que pode dar ganhos rápidos e poderosos. Tipo bolha.

Quanto à entidade política viável, vale lembrar que há coisas que não mudam ao longo da história. O dinheiro é aceite na medida em que a entidade emissora é credível. Ou relevante. Ou poderosa.
No século XVI, a moeda do reino de Portugal era aceite e procurada em todo o lado. A referência do comércio da época.
Os marcos do III Reich em 1940-41 eram procurados por todos (por quem tinha dinheiro para os comprar). Dizia-se então que no fim da guerra, valeriam 100 vezes mais. Em 1945, andavam crianças a brincar com as notas que tinham sido jogadas para o latão (servia de caixote de lixo).

Claro que, como ainda não aconteceu um daqueles incidentes que acontecem nestas manias, o pessoal ainda não pensa. Mas é uma questão de tempo.

Para mim, espero que haja um dia opções para jogar com a volatilidade. Isso, sim, agrada-me. :twisted:

Abraço

dj
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Re: Bitcoin

por MVP » 10/5/2021 18:22

djovarius Escreveu:Nenhuma moeda sobrevive se não for emitida por uma entidade política viável.
Isto é mais parecido com bolbos de tulipa. Muita gente afirma que, por não ser inflacionável, é o futuro.



Ideias soltas..

- Mesmo não tendo utilização monetária por bloqueio dos países da OCDE, a sua utilização pode ser mais expressiva em países fora da mesma, como o referido caso da argentina, outros países da america do sul e africa;

- O bitcoin não tem uma componente apenas de transação mas de reserva de valor, daí o não ser inflacionável ser valioso. Torna-se um ouro digital. E mesmo que muita gente se ria de tal coisa, se milhões de pessoas o virem dessa forma, ele valerá de acordo.

- Entidade política viavel? :lol: Certo porque os governos e bancos centrais são totalmente "viáveis" não é? E confiáveis! Se eu poupei eles vão certamente fazer de tudo para manter o valor dos meus ativos. Ou vão correr a diluir os mesmos pelos votos?

- Quem faz o valor dos ativos é o mercado, as pessoas. Neste momento existe um embate de ideias, bastante separado por gerações. Os mais novos estão all in nisto. Quem é que governa países e empresas daqui a 30 anos? Esses, ou os atuais que têm 60's?

- Não tenho duvidas que outros crashs vão existir, e algumas pessoas virão dizer "tinha razão". Parabéns. Mas a real questão aqui é, olhar para daqui a 10, 20, 30 anos. O sistema monetário será igual? Eu acho que não. Os governadores dos bancos centrais acham, ou querem, que sim.
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Re: Bitcoin

por rbrandaopereira » 10/5/2021 18:20

BearManBull Escreveu:Musk levou a dogecoin aos píncaros mas agora tirou-lhe o tapete

A dogecoin afundou mais de 30% no espaço de poucas horas este fim de semana, depois de Elon Musk ter reconhecido que esta criptomoeda inspirada no 'meme' de um sorridente cão da raça shiba inu não é mais do que um "esquema" ("hustle", na versão não traduzida).

Com este simples mas revelador comentário, o fundador da Tesla e da SpaceX colocou a cotação da dogecoin em queda livre. As declarações de Musk foram feitas durante o popular programa "Saturday Night Live" (SNL), que teve Musk como anfitrião e numa altura em que aquele que é um dos homens mais ricos do mundo participava num "sketch" em que fazia de especialista em mercados financeiros.


Este Musk... ética 0...


Sou só eu que vejo o SNL como um show de comédia, e o sketch em especifico onde foi dito que a dogecoin é uma espécie de 'hustle', não foi dito pelo Elon Musk, sim pelo tal Lloyd Ostertag, interpretado pelo Elon Musk?

É que 2 dias após o SNL, a SpaceX de Elon Musk, anunciou que aceitou dogecoin como pagamento de um programa espacial.. 8-)
Ora, eu acho que Elon Musk sabe muito bem o que faz...


Já agora deixo uma pista que pouca gente reparou, durante o sketch relativo a Marte...
Anexos
marte.png
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Re: Bitcoin

por djovarius » 10/5/2021 18:09

Os países da OCDE é que vão tirar o tapete a todos estes ativos.
Mas, como casino virtual global, é muito bom, não se pode negar. É do melhor.

Nem os Argentinos nem ninguém precisa disto para se proteger de desvalorizações. Sempre têm dólares, euros, ouro, etc...

Nenhuma moeda sobrevive se não for emitida por uma entidade política viável.
Isto é mais parecido com bolbos de tulipa. Muita gente afirma que, por não ser inflacionável, é o futuro.

Ora, nada mais errado. A moeda sempre foi inflacionável. No tempo do ouro, aumentava sempre o ouro, havia mais riqueza num Reino quanto mais ouro tivesse.
Mesmo na Economia moderna, é preciso inflacionar a moeda, nem seja no valor do PIB nominal, sob pena de termos contração e deflação de preços.
As criptomoedas são mais como uma "commodity", não rendem juros. A não ser que se crie mais um "shadow banking system". Na verdade, já andam aí empréstimos de bitcoins.
Obrigado, mas já temos disso até demais !!

Abraço

dj
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Re: Bitcoin

por MVP » 10/5/2021 17:58

Àlvaro Escreveu:Quanto mais depressa as cripto crasharem, maior a possibilidade da Coinbase inverter. E a possibilidade de isso acontecer é elevada. Quando a Bitcoin malharem, malharão as outras em cascata. Ainda hoje do Banco de Inglaterre tocou mais uma sineta para dizer que isso não vale meio tostão furado.


:lol: :lol: :lol:

Se o boomer disse vou já a correr vender!

Boomers a comentarem coisas destas, quando têm todo o interesse que isto não funcione e quando provavelmente nem entendem o que são criptomoedas/tokens faz me rir.
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Re: Bitcoin

por BearManBull » 10/5/2021 17:36

Musk levou a dogecoin aos píncaros mas agora tirou-lhe o tapete

A dogecoin afundou mais de 30% no espaço de poucas horas este fim de semana, depois de Elon Musk ter reconhecido que esta criptomoeda inspirada no 'meme' de um sorridente cão da raça shiba inu não é mais do que um "esquema" ("hustle", na versão não traduzida).

Com este simples mas revelador comentário, o fundador da Tesla e da SpaceX colocou a cotação da dogecoin em queda livre. As declarações de Musk foram feitas durante o popular programa "Saturday Night Live" (SNL), que teve Musk como anfitrião e numa altura em que aquele que é um dos homens mais ricos do mundo participava num "sketch" em que fazia de especialista em mercados financeiros.


Este Musk... ética 0...
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Re: Bitcoin

por Àlvaro » 8/5/2021 14:07

Opcard, para se protegerem ou porque pensam que ficam protegidos? É diferente. Olha para o fundamental da coisa e deixa a espuma. Elas treparam para o céu à espera que Trump usasse esse expediente para devastar economias por esse Mundo fora, permitindo q sua desregulação e que fossem usadas como moeda em transações. Afora com Biden, isso não aocntecerá. É por isso que terão de crashar. Deixa lá os argentinos ou outras conversas que assentam em especulação sem sentido. :?
 
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Re: Bitcoin

por Opcard » 8/5/2021 13:10

Existem hoje mais de dois milhões de contas argentinas na plataforma de câmbio de criptomoedas Binance, um número multiplicado dez vezes em um ano

Nós usamos a criptomoeda para especular, os argentinos para se protegerem da inflação 45%, em média.
 
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Re: Bitcoin

por Àlvaro » 8/5/2021 12:31

Quanto mais depressa as cripto crasharem, maior a possibilidade da Coinbase inverter. E a possibilidade de isso acontecer é elevada. Quando a Bitcoin malharem, malharão as outras em cascata. Ainda hoje do Banco de Inglaterre tocou mais uma sineta para dizer que isso não vale meio tostão furado.
 
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Re: Bitcoin

por Andre vez » 7/5/2021 12:56

Boas,

Tenho ideia que a versão pro da Coinbase é bastante competitiva.
Abraço
André
 
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Re: Bitcoin

por MVP » 7/5/2021 10:48

Salpim Escreveu:Bom dia!

Qual a corretora que usam para comprar/vender bitcoins?

Obrigado


Binance :mrgreen:
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Re: Bitcoin

por Salpim » 7/5/2021 10:21

rbrandaopereira Escreveu:Eu uso binance.
Fees bastante atractivas. Utilizo também cartão VISA da Binance para pagamentos do quotidiano.


Obrigado.
 
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Re: Bitcoin

por rbrandaopereira » 7/5/2021 10:14

Eu uso binance.
Fees bastante atractivas. Utilizo também cartão VISA da Binance para pagamentos do quotidiano.
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Re: Bitcoin

por JohnyRobaz » 7/5/2021 10:05

Salpim Escreveu:
LoneWolf Escreveu:BearManBull, tens aí o teu grafico da bitcoin actualizado?

Acho q a grande queda foi um dump provocado pelo Elon musk. Entretanto parece-me q está a mostrar bons sinais de novo.

Cumps,
LW


Bom dia!

Qual a corretora que usam para comprar/vender bitcoins?

Obrigado


Kraken.
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Re: Bitcoin

por Salpim » 7/5/2021 9:52

LoneWolf Escreveu:BearManBull, tens aí o teu grafico da bitcoin actualizado?

Acho q a grande queda foi um dump provocado pelo Elon musk. Entretanto parece-me q está a mostrar bons sinais de novo.

Cumps,
LW


Bom dia!

Qual a corretora que usam para comprar/vender bitcoins?

Obrigado
 
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Re: Bitcoin

por Opcard » 6/5/2021 13:50

Opcard Escreveu:1 Bitcoin dá para comprar 2 garrafas de vinho, estou na duvida onde devo investir ambos tem valorizado bem e o vinho em caso crash pode ser útil para esquecer .


https://www.decantalo.com/be/fr/domaine ... annee-2016


Se não se sentem atraídos a pagar 25 773,75 euros por uma garrafa de 0,75l Romanée Conti , há mais caro mas duvido que seja melhor .

Para 20 Bitcoin ou seja 1 milhão de dólares compra a colheita de 2000 do conhecido vinho Petrus esteve em órbita durante 14 meses e regressou à terra em janeiro.
 
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Re: Bitcoin

por Opcard » 5/5/2021 18:37

1 Bitcoin dá para comprar 2 garrafas de vinho, estou na duvida onde devo investir ambos tem valorizado bem e o vinho em caso crash pode ser útil para esquecer .


https://www.decantalo.com/be/fr/domaine ... annee-2016
 
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Re: Bitcoin

por LoneWolf » 5/5/2021 17:54

BearManBull, tens aí o teu grafico da bitcoin actualizado?

Acho q a grande queda foi um dump provocado pelo Elon musk. Entretanto parece-me q está a mostrar bons sinais de novo.

Cumps,
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Re: Bitcoin

por Luís S. Santos » 26/4/2021 15:23

rbrandaopereira Escreveu:Relembro que se entrarmos efectivamente em bearmarket, a btc, segundos os dados históricos anteriores, o seu bearmtk perdurou uns meses...
Se for apenas uma correção, não será nada de alarmante.


Algum tempo sim...
Anexos
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Re: Bitcoin

por rbrandaopereira » 25/4/2021 13:31

Relembro que se entrarmos efectivamente em bearmarket, a btc, segundos os dados históricos anteriores, o seu bearmtk perdurou uns meses...
Se for apenas uma correção, não será nada de alarmante.
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Re: Bitcoin

por Bar38 » 25/4/2021 13:15

BearManBull Escreveu:Grande queda...


O lower low está feito falta o lower high que ficava lindo para shortar ai por volta dos 55886.

Semanal..

Imagem
 
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Re: Bitcoin

por alvaroB » 23/4/2021 10:47

Acredito que ainda caia mais. Está tudo demasiado esticado e olho para os indicadores semanais.
Tenho algum dinheiro em USDT para colocar em algumas moedas quando o RSI semanal estiver nos 30.

Se isso nunca acontecer e só subir, paciência.
 
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Re: Bitcoin

por BearManBull » 23/4/2021 10:23

Grande queda...
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Re: Bitcoin

por Opcard » 23/4/2021 8:13

Este artigo é um alerta para o perigo do fim do dinheiro fisico .

“Os despotismos democráticos e o fim do dinheiro

Entregamo-nos ao Estado, aos economistas, à Justiça, aos Bancos Centrais, às plataformas electrónicas, como se fossem “pessoas de bem” ou “algoritmos de bem”. E nem sempre são.

Alexis Tocqueville, um conservador liberal com um fundo de pessimismo antropológico e também por isso atento às derivas perversas dos grandes ideais, estabeleceu a genealogia das ideias democráticas e chegou ao conceito aparentemente contraditório de “despotismo democrático”.


Fê-lo primeiro em L’Ancien Régime et la Révolution, analisando a filosofia das Luzes e os seus protagonistas. Os filósofos franceses da Ilustração e da Enciclopédia eram racionalistas que trabalhavam sobre uma Antropologia abstracta e, por isso, facilmente revolucionária. Enquanto em Inglaterra os pensadores contavam já com a experiência de uma sociedade que cortara a cabeça ao Rei, que passara, entre as Guerras Civis, por um processo revolucionário e que vivera a ditadura de Cromwell, a Restauração e a Glorious Revolution, em França, os filósofos discorriam nos salões das duquesas sobre índios e chineses idealizados, deliciosamente primordiais, construindo admiráveis utopias e divagando sobre sociedades tão imaginárias como perfeitas.

Depois, passaram a realização dessa sociedade ideal para uma entidade também ideal: o Estado, o Estado moderno, que encarnava colectivamente a vontade geral e popular rousseauniana. E desenharam então esse Estado unitário. Como o Rei Absoluto, Luís XIV, se proclamara “o Estado” (L´État c’est moi”), assim também a “assembleia dos indivíduos” unidos pela “vontade colectiva” se proclamava o soberano absoluto.

Contra o privilégio e a diversidade

E às abstrações políticas dos filósofos, juntaram-se as dos economistas, os fisiocrastas, “em cujos escritos – escreve Tocqueville – se reconhece já o espírito revolucionário e democrático que conhecemos tão bem”. Um espírito que, mais do que “odiar alguns privilégios”, odiava “a própria diversidade”.

Assim, para Tocqueville, coubera aos economistas “preencher” a utopia. E é sobre eles e a transformação dos homens através do Estado que escreve em L’Ancien Régime et la Révolution:

O Estado, de acordo com os economistas, não deve apenas governar a nação, deve moldá-la, de maneira certa; é o Estado que deve formar o espírito dos homens, segundo o modelo correcto que previamente definiu. O seu dever é preencher o espírito dos homens com determinadas ideias e dar aos seus corações os sentimentos que considere necessários. Na verdade, o Estado não reconhece limites aos seus direitos, nem fronteiras ao que pode fazer; não quer apenas reformar os homens, quer transformá-los.

A ideia de transformar os homens e de redimir a natureza humana era antiga. Mas se a transformação do Cristianismo é interior, feita por obra da Graça de dentro para fora, a dos iluministas e iluminados fazia-se de fora para dentro, por acção das leis e da força – pela violência, pelo abuso, pelo terror. Foi o que fizeram os revolucionários de 1789 a 1794 e depois nas revoluções soviética e chinesa. E se os elementos indesejáveis – aqueles que Rousseau, outro filósofo dos novos tempos, dizia que teriam de ser obrigados a ser livres – não quisessem mesmo ser “livres” e dessem maus exemplos, exterminavam-se. Era o “despotismo democrático”, ou o despotismo em nome da Democracia, e da Igualdade, e do Progresso, e da Ciência e das Luzes.

Esta variante caiu em desuso e em popularidade. Mas há outra, menos violenta e mais tranquila, que Tocqueville também diagnosticou, em De la Démocracie en Amérique e que está hoje em ascensão: a que nasce em sociedades à partida livres, igualitárias, abertas, em que os cidadãos, ocupados com os seus negócios e actividades, entregam o político (em sentido schmittiano) ao Estado. A um Estado benigno, paternalista, tutelar.



É este Estado que Tocqueville descreve numa passagem assustadora pela sua objectividade e actualidade:

Acima dos cidadãos ergue-se um poder imenso e tutelar, que se encarrega sozinho de garantir a sua felicidade e de zelar pela sua sorte. É um poder absoluto, detalhado, regular, previdente e doce.

O despotismo consentido

Se a primeira modalidade de despotismo democrático nascera do voluntarismo violento dos jacobinos, esta segunda nascia do consentimento acomodado dos povos, que, ora adormecidos pelos trabalhos e pelos lazeres de uma sociedade voltada para o bem-estar e para o consumo, ora amedrontados por perigos reais ou imaginários, esperavam que o Estado benevolente lhes garantisse a tranquilidade e os defendesse.

Com a proclamação dos “direitos e garantias individuais”, e apesar das muitas distorções e abusos a par de uma retórica de “igualdade perante a lei”, esquecemo-nos que a liberdade e as liberdades e as nossas instituições têm raízes em sociedades muito anteriores aos séculos democráticos. Ernst Jünger lembra a este propósito que a inviolabilidade do domicílio, por exemplo, se começou com o páter-famílias e os filhos à entrada de casa, de armas na mão, a defenderem o lar de intrusos. As sociedades de fronteira na América também seriam assim (mas a viagem à América de Tocqueville fora anterior à marcha para o Oeste, daí que a sua experiência de “despotismo democrático” se prendesse com as comunidades americanas agrícolas, sedentárias, mais próximas das nossas).


E é este outro “despotismo democrático” – herdeiro do primeiro, do furioso – que nos ameaça hoje e que hoje vemos reforçado – o da inércia, da resignação, do cansaço, das pequenas facilidades, da cedência cómoda e com pouca discussão ao que nos é “oferecido”. E para que a vida continue sem aparentes sobressaltos de maior, entregamo-nos ao Estado, aos economistas, à Justiça, aos Bancos Centrais, às plataformas electrónicas, como se fossem abstracções geridas por “pessoas de bem” ou por “algoritmos de bem”. E podem não ser. E nem sempre são.

Por isso, entre muitas outras duvidosas marchas em curso, a alegre marcha para a virtualização do dinheiro, a que, passo a passo, vamos cedendo mais ou menos entusiasticamente, devia obrigar-nos a pensar.

A maldição do dinheiro

Em The Curse of Cash (A Maldição do Dinheiro), Kenneth S. Rogoff, que foi economista-chefe do FMI e é professor em Harvard, defende que o dinheiro, o dinheiro vivo, devia acabar, ou ficar-se só por uma presença residual. Para Rogoff, notas, só as de 10 dólares, porque é o dinheiro físico, o dinheiro em circulação, que impede o controlo da inflação pelos Bancos Centrais, que viabiliza toda uma economia subterrânea, que obstaculiza a luta dos governos contra a evasão fiscal e que facilita actividades criminosas, como o tráfico de droga e de pessoas, a corrupção e o crime organizado.

É certo que não nos faltam exemplos próximos e reais, mas, levados por centenas ou milhares de filmes e séries sobre terroristas e traficantes, quando hoje pensamos no “mau dinheiro”, já quase só identificamos o camiliano “demónio do ouro” na efígie tranquila de Benjamin Franklin, repetida em maços de notas de 100 dólares, as célebres notas verdes portadoras de tantas alegrias e de tantas desgraças, devidamente arrumadas em pastas por conspícuos banqueiros ou apressadamente enfiadas em sacos por patibulares mafiosos. E no entanto, por insistência da realidade, o “ouro mau” também já ganhou na ficção uma imagem virtual, com a nervosa transferência bancária em iminente conclusão, qual bomba-relógio à espera da chegada do herói no último minuto. Isto porque se o “ouro” é cada vez mais virtual, o demónio também se vai actualizando.

Mas no princípio o ouro, bom ou mau, era mesmo o ouro. Tanto que o nosso Rei-fundador, em troca do reconhecimento papal e para “maior demonstração de reverência” teve de comprometer-se a depositar anualmente “nas mãos do Arcebispo de Braga” dois Marcos de Oiuo. Só então o Papa Alexandre III, na Bula Manifestis Probatum, reconhecendo “estar demonstrado com provas manifestas que, através de esforços bélicos e aguerrido pelejar”, o “caríssimo filho Afonso” tinha “extirpado os inimigos de Cristo”, o confirmaria como Rei e a Portugal como Reino.

Não se pode dizer que fosse uma soma milionária, este tributo. Dois Marcos de Ouro eram 460 gramas de ouro. Afonso propusera quatro Onças, o que não chegaria a 120 gramas. O Pontífice subira o preço, sem abusar muito. Nada a ver com os diabólicos tributos pagos por cá, em democracia plural, a políticos, gestores e facilitadores de negócios.

O ouro e a prata eram então a base dos pagamentos e da economia mundial. O papel-moeda aparecera há muito na China – Marco Polo fala dele no último quartel do século XIII. Segundo Hans Vogel, onde as notas americanas de Dólar têm “In God We Trust”, os imperadores da China tinham “Aqueles que falsificarem este papel-moeda serão decapitados”. Outras terras, outros tempos, outras gentes.

No século XVIII, nos territórios coloniais europeus, apareceram os Ious, uma espécie de papéis de reconhecimento de dívida transacionáveis, promissórias negociáveis no comércio local e válidas para pagamentos vários – símbolo dos sucessivos e progressivos avanços em relação às trocas directas e depois ao ouro, à moeda, às notas de banco convertíveis em ouro, ao valor fiduciário.

Distopias reais

Agora, com o dinheiro vivo emitido pelos Bancos Centrais a multiplicar-se em todo o mundo, advoga-se a supressão do papel-moeda: acabar com o dinheiro vivo é hoje visto por muitos como o apressar do fim de um meio obsoleto, dando aos governos o poder necessário para controlar a actividade económica e uma maior margem de manobra aos Bancos Centrais.

Mas esta marcha para a virtualização, dada como irreversível, levanta problemas e gera polémica. Há quem esteja contra a supressão do dinheiro vivo, sustentando que o dinheiro é a “marca da liberdade” e defendendo o direito à privacidade e à resistência ao controlo do Estado e à devassa da vida financeira não se sabe por que terceiros.
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